sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Rio Antigo Africano

Na manhã do dia 26 de novembro de 2011, apenas alguns dias após o feriado nacional da Consciência Negra, debaixo de uma garoa insistente, nosso grupo PET/Conexões Baixada realizou um passeio pelo Rio Antigo Africano. Esse nome é dado a uma região do Rio de Janeiro que contempla, principalmente, os bairros da Gamboa e da Saúde.
Guiados pelo professor Álvaro Nascimento (UFRRJ) e pela professora Giovana Xavier (UFRJ), e na companhia do nosso tutor Otair Fernandes, vivenciamos uma experiência diferente, afinal, fomos transportados, na companhia de um mapa do século XIX, para o Cais do Valongo entre os anos de 1799 e 1830. Essa atividade, uma oficina, era parte do cronograma do PET/Conexões Baixada do ano de 2011.
A caminhada iniciou-se por uma parte da história que estava apagada, mas hoje, como diria o filósofo alemão Walter Benjamin, insiste em “ser escovada a contrapelo”: o antigo Cais do Valongo. O Cais é hoje chamado, com placa e tudo, de Cais da Imperatriz.
Por que Benjamin tinha razão? Ora, “todo monumento de civilização é sempre um monumento de barbárie.”
O Cais do Valongo era o local onde os negros desembarcavam dos navios negreiros (também conhecidos como tumbeiros), podemos deduzir o porquê. Até o ano de 1770 o desembarque da “mercadoria” e seu escambo eram feitos na Praça XV. Mas, com a chegada da família real e o enchimento da cidade, olhares, primeiro curiosos, e em seguida assustados, fizeram com que o vice-rei Marquês do Lavradio transferisse o desembarque dos africanos para este local, um pouco mais afastado do Centro da cidade.
Com o passar dos anos, o Cais ficou conhecido como o Cais da Imperatriz e assim uma parte da memória afro-brasileira foi apagada. Mas agora, em 2011, ao iniciar a escavação daquela região para revitalização da cidade do Rio de Janeiro, que receberá dois grandes eventos esportivos (a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos Mundiais em 2016), a história nos devolve nossos mortos.
Após conhecermos essa parte inicial, que foi o cerne do passeio, seguimos pela Pedra do Sal, sem deixar de perceber o Largo do João da Baiana e paramos ao pé do Morro da Conceição para falar um pouco sobre uma questão que ainda causa discussões: o samba é carioca ou baiano? Os desenhos de Cartola, compositor carioca, na parede das casas, contrastam com o nome do Largo. Mas parece que ali, ao pé do Morro, eles estão em plena harmonia.
Com a persistência da chuva, fomos obrigados a encurtar os trajetos. Logo, conhecemos a Rua do Jogo da Bola, lugar onde, segundo o professor Álvaro Nascimento, os marinheiros se reuniram por dois anos para organizar a Revolta da Chibata. Finalizamos passando em frente à Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, beleza arquitetônica que desde 1938 encontra-se tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Já motivados pela fome, iniciamos a descida do Morro. Muita chuva, lindos lugares, linda arquitetura, e muitas histórias esperando para serem contadas e (re)descobertas, cabe a nós fazermos nossa parte.

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