O grupo PET/Conexões de Saberes: Dialogando e Interagindo com múltiplas realidades e saberes na Baixada Fluminense - UFRRJ-IM (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Instituto Multidisciplinar) realizou seu primeiro evento para firmar seus objetivos e projetos de colocar em foco a Baixada Fluminense como região rica em cultura, história, talentos e trabalhos acadêmicos. Desmistificando a ideia da Baixada Fluminense como um lugar de violência, esquecimento e pobreza, o evento enfatizou o potencial e o talento dos distintos grupos inseridos na região. A I Semana da Baixada Fluminense (como foi intitulado o evento) contou na sua programação com atividades voltadas para o público acadêmico e a comunidade em geral, aproximando-os da realidade cultural da Baixada Fluminense através da exibição de valores culturais diversos e inculcando experiências na vida de todos os participantes do evento.
A Semana integrou os alunos e os habitantes da região, que se desdobraram em performances artísticas, apresentações de trabalhos acadêmicos, debates, cines-debate e caminhada a um dos mais importantes patrimônios naturais da região. O evento teve aproximadamente um público de 1.069 pessoas durante toda a Semana e através da união de saberes acadêmico e popular proporcionou uma aproximação de diferentes públicos da Baixada Fluminense através de valores culturais diversos.
Na abertura do evento, segunda feira, dia 16 de maio, o professor doutor e tutor do grupo, Otair Fernandes de Oliveira, apresentou o grupo PET, sua origem e quais são os seus objetivos. Também compôs a mesa a professora Dra Nídia Majerowitz – pró-reitora de graduação da UFRRJ – que abordou também a importância dos grupos PET tanto para os alunos quanto para os professores e a própria universidade. A professora Gabriela Rizzo, que também estava na mesa, enfatizou a fala da pró-reitora mencionando a importância da associação do Programa Conexões de Saberes ao Programa de Educação Tutorial.
Após a abertura, a mesa redonda “Baixada Fluminense: histórias, identidades e territorialidades” fez as honras. O convidado Gênesis Torres do IPAHB - Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense - falou do interesse de alguns historiadores sobre a pesquisa da história da Baixada, também mostrou os diversos institutos de pesquisa que hoje existem na Baixada Fluminense, e seus problemas com a falta de arquivos, acesso a eles e também da má conservação dos mesmos, entre outros assuntos. Em seguida a palavra foi dada à professora Dra Lucia Helena Pereira da Silva – História IM UFRRJ – que mostrou seu trabalho, ainda em curso, sobre a Baixada: Identidade e Territorialidades na Baixada . Após sua fala, a palavra foi dada ao cantor, compositor, gestor e produtor cultural Roberto Lara, que abordou questões de história e identidade ligadas à emancipação de territórios – como Belford Roxo, por exemplo – a questão dos migrantes nordestinos e concluiu sua fala mencionando algumas pessoas conhecidas na mídia que são oriundas de municípios da Baixada Fluminense. Por último, porém não menos importante, esteve com a palavra, o professor doutor Álvaro Pereira Nascimento – História IM UFRRJ. O professor apresentou um trabalho de pesquisa sobre a Baixada, que conta como um dos objetivos a reconstrução da história das famílias negras que vieram para a região para trabalhar nos laranjais e que aqui ficaram. Outro projeto do professor é a digitalização do jornal “Correio da Lavoura” que funciona desde 1917. Foi aberto então o espaço para o debate entre os componentes da mesa e perguntas de alunos. Entrou-se então em questões políticas onde cada um defendeu seu posicionamento quanto ao que pensam que deve ser feito em relação a assuntos como: conservação dos arquivos sobre a Baixada, criação de um centro de memória da Baixada no IM, junto com a capacitação de alunos para trabalhar com esses arquivos.
À Tarde, no segundo dia de evento, terça, dia 17 de maio, aconteceu o Cine Baixada I, onde foram exibidos filmes tendo como temática principal a Baixada Fluminense. O documentário “Nunca fui mas me disseram”, retrata a visão de pessoas que não conhecem a Baixada Fluminense e que muitas vezes têm uma visão bem distorcida da realidade da região. Foi exibido também o documentário “A casa da Pantera” que apresenta relatos de freqüentadores e trabalhadores do bar Casa da Pantera, situado em Nova Iguaçu, que foi o ponto de encontro dos artistas e intelectuais da baixada durante o período da ditadura. O filme aborda esse ambiente de reflexão e descontração. Após a exibição dos médias-metragens, esteve com a palavra o produtor de “A casa da Pantera” , Victor Iotte Lara, que acrescentou que muitos dos entrevistados, antigos freqüentadores do bar, hoje trabalham com cultura. A professora de história da Faculdade de Educação da História da Baixada Fluminense FEBF/UERJ , Coordenadora do Centro de Referência Patrimonial e Histórico de Caxias e do Museu Vivo de São Bento, Marlúcia Santos Souza, levantou uma questão que considera muito importante a respeito do preconceito quanto aos moradores da Baixada, preconceito esse que ficou claro no primeiro filme. Mauro de Sá Rego Costa, coordenador do laboratório de rádio da FEBF/UERJ, em sua fala conta sua trajetória da zona sul para a Baixada. Mauro, veio dar aulas no campus da UERJ em Caxias em 1991. “Nessa época, a Baixada realmente era um lugar de desfavorecidos”, conta ele. Mas que hoje a situação não é essa. A professora Marlúcia e o Professor Mauro Sá, expuseram diferentes opiniões realizando um debate amplamente rico de ideias e informações finalizando essa atividade com chave de ouro. E para enriquecer ainda mais, e (Re)Descobrindo a Baixada, à noite os alunos do curso de História do Instituto Multidisciplinar apresentaram seus trabalhos sobre a história da Baixada Fluminense. A aluna Maria Lúcia Bezerra, discorreu sobre “Caminho Egressos: Vivencia trabalho e Edificação Urbana no Pós-Abolição em Nova Iguaçu”. Com a pesquisa sobre “A Criação da Diocese de Nova Iguaçu”, esteve com a palavra o aluno Gabriel do Nascimento. E fechando a apresentação de trabalhos, Allofs Daniel Batista abordou “ ‘Correio da Lavoura’ preservação de um jornal: a História, a Memória e o Patrimônio Histórico”. E por fim, foi aberto o debate com o público.
A Semana da Baixada foi além dos muros da universidade, na quarta, dia 18 de maio. A caminhada ecológica na Reserva Biológica de Tinguá, uma parceria com o programa PetGeo e curso de Turismo, ambos também do IM, apresentou ao público uma amostra das riquezas naturais da Baixada Fluminense. A Professora Doutora Flavia Lins de Barros apresentou o grupo a Márcia de Souza Nogueira, chefe da ReBio Tinguá, que foi guia do grupo durante a caminhada. Mostrando a diferença de uma reserva biológica para os outros espaços que são protegidos por lei, Márcia falou sobre a reserva e suas restrições e, ainda, falou brevemente sobre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (o antigo IBAMA). O frio e a chuva não desanimaram os participantes, que lotaram o ônibus para apreciar um dos principais patrimônios naturais da região. As fotos falam muito, mas só quem esteve na atividade pôde apreciar mais fielmente a beleza da Reserva.
À tarde o Grupo de Pesquisa Estudos Culturais em Educação e Arte, coordenado pelo Professor Dr. Aristóteles Berino, ministrou a oficina “Os filmes da minha vida: fazendo cinema em uma escola da Baixada”. Onde foram exibidos o vídeos dos alunos do colégio CTUR; o vídeo clipe “Estudo errado”, do Gabriel, o pensador; e o vídeo do filme “The Wall”, do Pink Floyd com a música “Another Brick In The Wall”. A oficina teve como objetivo demosntrar que a educação brasileira pode ser modificada.
Ainda na quarta, à noite, deu-se continuidade às apresentações de trabalhos e pesquisas relacionados à Baixada Fluminense, no (Re)Descobrindo a Baixada II. Gilmar Machado de Almeida Machado (verificar se os sobrenomes estão corretos) e os co-autores Leonardo Silva de Oliveira, Robson de Oliveira Lopes, Layla Fernanda Alves Freire, Marilene Vargas Ribeiro e Bernardo Régis Guimarães de Oliveira; apresentaram o trabalho “Meio Ambiente e Espaço Urbano: Uma abordagem dos problemas socioambientais na Sub-Bacia Meriti-Pavuna-Acari”. No presente trabalho, o professor de Geografia Gilmar Machado relatou o grave problema do lixo que tem cada vez mais tornado-se um obstáculo a preservação do meio-ambiente. E nos trouxe o fato que nos causa indignação: constatar que a maior parte das famílias e populações que sofrem com problemas causados pelo lixo, frequentemente descartam seu lixo em local inadequado. Esse descarte se dá na maior parte das vezes em rios e córregos. A aluna de Letras, Taiza Dias do Nascimento, junto aos co-autores: o Professor Dr. Fernando Vieira Filho – UFRRJ - IM e as alunas Caroline de Oliveira Rocha, Lívia de Lourdes Dias Monteiro Ramos; abordaram a pesquisa sobre o “Ensino de Gramática na Baixada Fluminense”. O grupo de pesquisadoras – discentes de Letras da UFRRJ-IM, coordenado pelo professor Dr. Fernando Vieira, todos bolsistas da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), traçou um mapa, ainda em fase de finalização, para pesquisar o quê/como tem sido o ensino de gramática na Baixada Fluminense.
No quarto dia de evento, 19 de maio, quinta-feira, ocorreu a continuidade do Cine Baixada, com a exibição de curtas-metragens sobre a Baixada Fluminense. Foi apresentado o curtas “Baixada Fluminense ontem e hoje”, que apresenta uma série de fotos de todos os municípios da Baixada Fluminense, no passado e no presente. O filme tem por objetivo traçar uma linha do tempo, contando a história da Baixada através de imagens. Foram exibidos também os filmes “Preconceito contra nordestinos”, que mostra as diferentes reações de moradores da Baixada a uma simulação de preconceito contra os nordestinos, e o filme “Mães do Hip Hop”, que mostra a vida de integrantes do grupo Enraizados, de Morro Agudo, através da perspectiva de suas mães. Após a exibição houve debate com a presença dos produtores dos filmes exibidos.
À noite, ainda na quinta-feira, foi realizado o lançamento dos livros “Enraizados: Híbridos glocais”, do autor Dudu do Enraizados; “Imagens Nova Iguaçu”, do fotógrafo Paulo Santos; “Estação abrigo”, do Fábio Fernando; “Negros, indígenas e educação superior e Educação, cultura e relações interétnicas”, do professor do IM, o Doutor Ahyas Siss. Todos os livros referentes à Baixada. O lançamento contou com a presença de seus autores, que apresentaram brevemente os seus livros e debateram sobre os mesmos com o público. Após a apresentação dos livros, o sambista Sérgio "Cara Preta" foi convidado para compor a mesa. Sérgio falou sobre samba e sobre os negros na Baixada Fluminense. E a mesa foi aberta para perguntas e debate com o público.
Para encerrar o evento, na sexta, dia 20 de maio, foi a vez da Mostra Cultural, onde contamos com a presença de artistas baixadenses. Houve apresentações musicais de hip hop, com o grupo Enraizados, Petter MC, Marcão Baixada e Movimento Hip Hop de Queimados; e de MPB, com aluno de pedagogia, o cantor Abner. A professora e bailarina oriental, Patrícia Gia Nut, se apresentou com duas coreografia de dança do ventre e as alunas do Espaço Gia Nut de Dança apresentaram um pouco do folclore árabe com uma coreografia de Baladi. A Cia Teatral Fios da Roca tirou o público do auditório e apresentou, em um dos espaços abertos, trechos do espetáculo “De Iguassú Velha à Nova Iguaçu” Nos intervalos entre as atrações as alunas de história; Amanda Reis, Olívia Cascardo, Suelane Camelo e Val Pessoa recitaram poemas de autores da Baixada Fluminense. Para fechar a noite o cantor Abner retornou ao palco, ambientando e agitando o lanche de encerramento.
Durante toda a semana contamos com as exposições: Imagens da Baixada, do fotógrafo Paulo Santos; quadros impressionistas, da artista Dalva Pavão; e as exposições de curadoria de Claudina Oliveira: Livros e Autores da Baixada Fluminense, e a exposição digital de Obras de Artistas da Baixada.