(Texto de Jefferson
Alves com colaboração de Valéria Lourenço – petianos)
A
Baixada Fluminense, região que ainda é capaz de provocar visões pré-concebidas
e estigmatizadas, não se difere muito das chamadas comunidades ou favelas da
Zona Sul. E com base nessa ideia, o PetConexõesIM_Baixada decidiu organizar uma
oficina de fotografia na Rocinha. Com inscrições abertas a todo o público
acadêmico ou não, tivemos um bom número de inscrições, mas acreditamos que a
chuva tenha desanimado alguns participantes, não todos. Tivemos, além da
presença do professor Otair Fernandes (Tutor), os petianos: Caruanã Guatara,
Cristiane Carvalho, Jefferson Alves, Wagner Peres, Valéria Lourenço, Valéria
Vieira, os visitantes: Aldinéia Vieira, Angélica Fernandes. Como guias: Antônio
Carlos da Silva e Michel Silva.
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O guia: Antônio Carlos da Silva –
Foto: Angélica
Fernandes
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O guia: Michel Silva –
Foto: Angélica Fernandes
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A chuva insistia em
cair, mas isso não foi suficiente para adiar a ida do PetConexõesIM_Baixada à
favela da Rocinha, para a realização de uma oficina de fotografia. Toda a
aventura aconteceu dia 09 de junho de 2012, onde ficamos dentro da comunidade
das 10h às 18h conhecendo a história as belezas e os contrastes dessa, que é a
maior favela da América Latina.
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Entrando na Rocinha,
Via Ápia – Foto: Antônio Carlos
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A Rocinha, que é chamada de favela, comunidade
ou até mesmo morro por conta da característica física, fica numa região do Rio
de Janeiro rica financeiramente, pois corta os bairros de São Conrado e Gávea.
E por conta disso, em volta da favela avistamos as mansões que a cercam. Mas
esta localidade, assim como a Baixada Fluminense, sofre discriminação por
efeito de uma construção social deturpada tendo como base a ocupação social de
seu território ser feita, em sua maioria, por pessoas de pouca aquisição
financeira.
Além de observarmos esses detalhes que chamam
atenção, e o dia-a-dia da comunidade, já que lá chegamos às 10h da manhã, vimos
de perto como está sendo a atuação do estado numa região que era abandonada com
a falta de serviços básicos para a sobrevivência humana. A localidade tem uma
vasta pluralidade cultural de várias regiões do Brasil, mas com maior
predominância Nordestina. Um exemplo disso foi o Sr. Francisco que lá
conhecemos e é um dos personagens dessa caminhada. Falaremos dele mais abaixo.
O
passeio, que no início teria um único guia, Antônio Carlos, fotógrafo que
sempre viveu na comunidade, ganhou o reforço de um jovem de 18 anos, Michel
Silva, que trabalha, juntamente com a irmã Michele Silva na Rádio Brisa, um
rádio na Rocinha que leva informações a seus moradores. Michel soube da oficina
através de pesquisa na internet, fez sua inscrição e foi participar conosco.
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Via Ápia. Valéria Lourenço (PET/Conexões) e Michel
Silva
(Fundador do site www.vivarocinha.org) Foto: Angélica Fernandes
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O
sábado foi um dia de pouca sorte quando o assunto é o tempo, neste dia não
parou de chover em nenhum momento. Ah! Por um breve intervalo, a chuva cessou.
Foi quando, no Laboriaux, o ponto mais alto da Rocinha, subimos na laje do Sr.
Francisco e pudemos admirar toda a paisagem num ângulo de 360º.
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Laboriaux, A cidade - Foto: Angélica Fernandes
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Apesar
de ser a maior favela da América Latina, podemos perceber que cada espaço
naquela região é muito disputado. Tudo é muito apertado: becos estreitos, o comércio,
que é dominante naquela região, tem espaços pequeninos, sem falar da fiação que
parece uma linha de pipa que está enrolada de um poste a outro.
Subimos
a rocinha na chuva e descemos na chuva. Foi uma aventura, pois além de estarmos
numa região considerada até pouco tempo como super-perigosa estávamos debaixo
de muita chuva, subindo e descendo ladeiras íngremes. E além disso, tínhamos
que disputar lugar com carros e motos que subiam e desciam a todo momento. As motos,
um dos principais meios de locomoção nas ruas da favela, já somam mais de
quatro mil na região, segundo Michel Silva. E toda essa caminhada foi feita
segurando o guarda-chuva, mas posso dizer que esse momento foi fabuloso.
A nossa recompensa é saber que toda a
discriminação que estes moradores sofrem não deixa de ser uma divulgação
equivocada de que a pessoa pobre não tem capacidade de possuir sensibilidade
humana. Constatamos isso no momento que entramos na casa do Sr. Francisco. Morador
da Rocinha há 55 anos, Sr. Francisco veio do Ceará e demorou oito anos para
construir a sua casa, fez sozinho. Hoje, com sua casa em um dos pontos mais
altos da Rocinha, é possível ver de sua laje, temos uma visão panorâmica da
cidade, fantástica e por este motivo, vários turistas são convidados pelos
guias a subirem na casa do Sr. Francisco e observarem a beleza do Rio de Janeiro.
Sr. Francisco abre as portas de sua casa sem cobrar nada. E ainda nos convidou
para almoçar.
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Laboriaux. Na laje do Sr. Francisco. Grupo PET e Sr.
Francisco. Foto: Antônio Carlos da Silva
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Foi um dia muito
prazeroso embora a situação do tempo estivesse adversa. Fizemos uma caminhada
longa que teve uma duração de 4h por dentro de ruas e vielas da Rocinha. Tivemos
a oportunidade de assistir a uma aula fora dos muros da Universidade, com um aprendizado
que só se realiza quando nós estamos dispostos a conhecer a diversidade, livre
de quaisquer pré-conceitos.
Ainda tivemos a
oportunidade de fazer uma rápida visita à Rádio Brisa (101,7FM).
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Rádio Brisa. Prof. Otair Fernandes e Michel Silva –
Foto: Angélica Fernandes
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Enfim,
conhecer a Rocinha foi uma experiência que talvez não consigamos descrever somente com uso das palavras. O que foi
sentido e aprendido vai além do papel. E isso mostra o quanto ainda temos que
aprender, afinal o conhecimento é sempre uma via de mão dupla, e lá éramos
todos alunos, dispostos a aprender um pouco mais sobre a vida.
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Rocinha ao entardecer, vista do alto da Passarela – Foto: Angélica
Fernandes
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